Economia Criativa
De modo geral, incluem-se na economia criativa todos aqueles setores nos quais a agregação de valor tem como base dimensões imateriais, como a criatividade, a cultura, o conhecimento e a inovação. Em linhas gerais, pode-se delimitar um conjunto de atividades econômicas que fazem parte desse universo: audiovisual, comunicações, TV e rádio, publicidade, arquitetura, música, design, moda, artes visuais e cênicas, pesquisa e desenvolvimento, software e games, artesanato, turismo e patrimônio histórico e cultural. Esse é um conjunto de atividades heterogêneas do ponto de vista de sua composição, de objetos e dinâmica, mas que têm em comum o fato de estarem diretamente associados com conhecimento, cultura e criatividade.
O núcleo da indústria criativa é formado pelas atividades profissionais e/ou econômicas que têm as ideias como insumo principal para a geração de valor. A ele se somam as atividades relacionadas, que compreendem os profissionais e os estabelecimentos que ofertam, diretamente, bens e serviços à indústria criativa. São representadas, em grande parte, por indústrias, empresas de serviços e profissionais fornecedores de materiais e elementos fundamentais para o funcionamento do núcleo criativo. Por fim, é preciso considerar também as estruturas de apoio, aquelas atividades que abastecem de bens e serviços, de forma indireta, a indústria criativa1.
A diversidade cultural, em conjunto com a tradição gaúcha, fazem do Rio Grande do Sul um dos principais polos criativos brasileiros. Com um cenário cultural local arrojado e dinâmico, o Estado é destaque em diversas frentes da indústria da criatividade.
As atividades relacionadas com a indústria criativa são responsáveis por, no mínimo, cerca de 4% do PIB do RS, correspondendo a um montante de mais de R$ 11,7 bilhões em termos de valor agregado bruto à economia do Estado. A isso, ainda seria possível somar uma parte das atividades educativas e de pesquisa e desenvolvimento, assim como uma parte dos serviços de alojamento e alimentação e das atividades científicas e técnicas2.
Em número de empresas existentes, a posição do Rio Grande do Sul é de destaque. O quantum de empresas sediadas no Estado que ultrapassa essa marca está associado às seguintes atividades: edição de jornais (11,1%); edição de cadastros, listas e outros produtos gráficos (12,4%); edição integrada à impressão de jornais (14,4%); edição integrada a cadastros, listas e outros produtos gráficos (11,7%); distribuição cinematográfica de vídeo e programas de televisão (11%); exibição cinematográfica (9,6%); atividades de rádio (11%); serviços de arquitetura (11%); paisagismo (10,7%); ensino de arte e cultura (10%); atividades de bibliotecas e arquivos (11,1%); atividades de museus e de exploração, restauração artística e conservação de lugares e prédios históricos e atrações similares (14,1%); atividades de jardins botânicos, zoológicos, parques nacionais, reservas ecológicas e áreas de proteção ambiental (11,2%); parques de diversão e parques temáticos (10,8%); atividades de organizações associativas ligadas à cultura e à arte (10,5%). O número total de empresas formalizadas pertencentes ao segmento do núcleo das indústrias criativas corresponde a 25.027 empresas, totalizando 7,8% do total nacional, empregando 74,8 mil trabalhadores3.
O setor audiovisual do Rio Grande do Sul, por exemplo, goza de forte tradição. Essa cadeia, composta pelas atividades de produção, pós-produção, marketing, distribuição, exibição cinematográfica e vídeo, assim como pelas atividades de televisão aberta e a cabo, além de todas as atividades relacionadas (aluguel de equipamentos, catering, cenografia, marcenaria, eletricidade, áudio, logística etc), tem ainda resultados colaterais positivos, como o incremento ao turismo. O Estado já ocupa espaço significativo no mercado brasileiro, sendo hoje o 3º polo de produção audiovisual do país4, contando com parceria firmada com países do Mercosul para produção bilateral.
Com apoio do Governo do Estado, a Fundação de Cinema RS (Fundacine), criou o Arranjo Produtivo Local (APL) Audiovisual de Porto Alegre e Região Metropolitana, que conta com mais de 70 empresas participantes e apoiadores, entre produtoras, estúdios de áudio, locadoras de equipamentos, programadoras, exibidoras etc. Além disso, o Centro Tecnológico Audiovisual do RS (Tecna), uma iniciativa da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), em conjunto com o Governo do Estado e com a Fundacine, é um centro de referência para a indústria criativa, com ênfase no audiovisual e na tecnologia. Abriga completa infraestrutura de produção e pós-produção de conteúdos digitais criativos, cluster empresarial, centro de formação permanente e laboratórios de pesquisa. Localizado em Viamão, município vizinho de Porto Alegre, está sediado no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc)5.
A cena musical gaúcha é caracterizada por um conjunto vasto de estilos e festivais, contando com artistas de renome nos cenários nacional e internacional nas mais variadas vertentes musicais. Considerando que a cadeia da música não se restringe à relação entre o artista e o público, tendo como ponto de partida a produção industrial dos insumos para a produção musical, passando pelo processo de produção musical (estúdios de gravação, equipes técnicas etc), pela divulgação da música (publicações especializadas, rádios e programas de TV) e pela execução (teatros, casas de espetáculos, clubes, bares), vemos no Rio Grande do Sul uma cadeia completa e complexa de atividades econômicas relacionadas6.
A indústria do livro gaúcha é especialmente forte, tanto em número de publicações quanto em qualidade do conteúdo gerado. Os números do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas mostram outros aspectos relevantes para a indústria criativa gaúcha, que posicionam o Rio Grande do Sul como o 3º Estado com maior quantidade de bibliotecas públicas do Brasil7. O RS lidera o ranking nacional em quantidade de municípios que realizam feiras de livro. A capital do Estado conta com um grande número de teatros e de cinemas, posicionando-se nacionalmente com as melhores taxas de oferta de estabelecimentos por total da população da cidade.
Na Região Metropolitana, vemos forte aglomeração de empreendimentos criativos das mais diversas áreas. Esse é o caso do setor de jogos digitais, que se encontra principalmente concentrado em torno de três parques tecnológicos (Feevale Tech, Tecnosinos e Tecnopuc) e das três principais universidades da região e conta com algumas das empresas mais respeitadas no país, efetivamente posicionando o Rio Grande do Sul como um dos maiores produtores de jogos digitais do Brasil.
Oportunidades do Setor
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Área de production services: as produtoras locais têm preços competitivos e mão de obra altamente capacitada, o que tem atraído a atenção do mercado publicitário nacional. Muitas das propagandas de marcas nacionais, produzidos por agências do Rio de Janeiro e de São Paulo, são rodadas em Porto Alegre, gerando demanda significativa para as produtoras locais. O Festival de Gramado, consolidado como um dos mais importantes e tradicionais do Brasil, é um espaço importante de promoção da produção local e de debate sobre as políticas para o setor.
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Área de produção fonográfica: o Centro Tecnológico Audiovisual da PUCRS ampliou sua área de atuação para a produção fonográfica, com projeto de instalação de um estúdio de gravação que visa disponibilizar equipamento de última geração e transformar o RS em um polo de produção fonográfica de padrão internacional. Também no setor privado houve no período recente investimentos vultosos em equipamento e modernização tecnológica. Dessa forma, o Estado já possui capacidade instalada para ocupar um espaço no campo da produção e gravação musical.